Corynebacterium pseudotuberculosis
Corynebacterium pseudotuberculosis é um patógeno intracelular facultativo que causa a linfadenite caseosa (LC) em caprinos e ovinos, linfangite ulcerativa em equinos, abscessos superficiais em bovinos, suínos, cervos e animais de laboratório, artrites e bursites em ovinos, abscessos de peito em equinos e mais raramente em camelos, caprinos e cervos (Kuria, et.al, 2001). A doença também é conhecida como mal do caroço ou falsa tuberculose. Para a caprino-ovinocultura nacional trata-se de um sério problema, com perdas econômicas evidenciadas através da diminuição de produção de leite, da desvalorização da pele devido às cicatrizes, ao custo das drogas e da mão de obra para tratar os abscessos superficiais. Na espécie humana causa linfadenite subaguda a crônica e é contraída pelo contato com animais infectados. Esta bactéria é distribuída mundialmente, mas com prevalência mais alta na Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Estados Unidos e Brasil (Arsenault, et.al, 2003).
Considerando sua morfologia, C. pseudotuberculosis é classificado como pleomórfico por apresentar variações desde formas cocóide até bastão filamentoso. Este microorganismo é Gram-positivo, imóvel e não esporula. Seu tamanho varia de 0,5 a 0,6 μm de diâmetro por 1,0 a 3,0 μm de comprimento, apresenta uma grande diversificação no requerimento de oxigênio, podendo ser aeróbio, microaerófilo e anaeróbio facultativo (Scanlan, 1991). Esta bactéria é catalase positiva, geralmente reduz nitrato e telurito, raramente acidifica lactose ou rafinose ou liquefaz gelatina (Holt et al., 1994). O gênero Corynebacterium é composto por espécies quimioorganotróficas com metabolismo fermentativo (ex.: glicose) e outros carboidratos com produção de ácido e sem produção de gás. As características bioquímicas de 20 espécies do gênero Corynebacterium são apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1- Características Bioquímicas de 20 Espécies do Gênero Corynebacterium
Símbolos: +, 90% ou mais das cepas são positivas; (+), 80-89% das cepas são positivas;
d, 21-79% das cepas são positivas; -, 90% ou mais das cepas são negativas; ND, não determinadas.
FONTE - Bergey's Manual of Determinative Bacteriology, p. 593, 1994.
No período de 48 a 72 horas, em meio ágar sangue, as bactérias formam colônias pequenas, esbranquiçadas, ressecadas e com hemólise nítida (Biberstein et.al, 1971). Algumas espécies possuem grânulos metacromáticos que são reservas de fosfatos de elevada energia (Biberstein, 1994). Possui sensibilidade aos seguintes antibióticos: penicilina G, macrolíticos, tetraciclinas, cefalosporinas, lincomicina, cloranfenicol e a um coquetel de sulfamina–trimetropina e rifampicina. A sensibilidade aos aminosídeos varia de acordo com o biovar (Judson & Songer, 1991).
Corynebacterium pseudotuberculosis produz dois importantes antígenos: uma potente exotoxina hemolítica, a fosfolipase D (PLD) capaz de converter esfingomielina em N-acetiesfingosil - ceramida (Jolly, 1965) e de aumentar localmente a permeabilidade vascular, levando à disseminação do patógeno no interior do hospedeiro (Hodgson et.al., 1992), e os lipídios tóxicos que constituem cerca de 6,52% da parede celular (McNamara, et.al, 1995) e estão relacionados à virulência da bactéria, pois podem mediar a resistência bacteriana ao ataque dos fagócitos (Hard et.al, 1975).
Interessante ressaltar que, apesar da sua inegável importância na sanidade animal, essa bactéria é pouco caracterizada e poucos genes envolvidos nos mecanismos patogênicos são realmente conhecidos. Em vista disto, o Laboratório de Genética Celular e Molecular em conjunto com o CEPH (Centre d’Etude du Polymorphism Humain), localizado na França, construíram 3 bibliotecas genômicas da linhagem vacinal 1002 da Corynebacterium pseudotuberculosis no ano de 2000. Estas bibliotecas foram clonadas no sítio Hind III do vetor pBeloBAC11 (Shizuya, et al., 1952) e transformadas na bactéria E.coli DH10B pelo Dr. Alain Billaut do CEPH , buscando o entendimento desta bactéria e já contribuindo para um futuro seqüenciamento da mesma.
Para dar inicio ao trabalho, a linhagem vacinal 1002 da Corynebacterium pseudotuberculosis foi obtida pela extração de abcessos externos de cabras, isolada em 1971 no município de Curaçá – BA e fornecida pelo Dr. Roberto Meyer, professor do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Bahia (ICS/UFBA). Análises do 16S rRNA dessas cepas confirmaram serem estas bactérias C. pseudotuberculosis e o teste bioquímico api Coryne mostrou que estas cepas pertenciam ao biovar Ovis.
Em agosto de 2006, com o apoio da FAPEMIG, e inserido na Rede Genoma de Minas Gerais, o LGCM iniciou o seqüenciamento do genoma da C. pseudotuberculosis que já está concluído, e fornecerá pistas que poderão ajudar a elucidar os mecanismos moleculares e as bases genéticas da virulência deste microrganismo, além de gerar informações para o desenvolvimento de vacinas, de terapias e de kits de diagnóstico. Além disso, várias espécies do gênero Corynebacterium já foram completamente seqüenciados, o que reflete a importância médica, veterinária e biotecnológica destes organismos. Por isso a importância de se empreender tentativas para caracterizar geneticamente o agente etiológico da linfadenite caseosa e contribuir para o controle direto da doença.